Como alguns no futebol, o roteiro parecia escrito para o cinema. Com toques dramáticos e polêmicos, o Botafogo conquistou uma suada vitória sobre o Boavista, na estreia do Campeonato Carioca de 2009, fora de casa, dia 24 de janeiro. O ano era especial porque marcava o início de uma gestão nova, que assumia o futebol prometendo ideias e atitudes novas em relação à anterior. Mas, ainda assim, o cenário não estava completo. Contestado e com a "sombra" de Lucio Flavio em sua cola, como o mesmo define, Maicosuel queria calar os críticos, e o fez, resolvendo o jogo. Agora, depois de deixar o clube, voltar e sofrer uma lesão gravíssima - que quase o fez parar de jogar -, enfim, marca encontro com o palco da estreia de gala, domingo, sob a promessa de muita emoção.
Saquarema e o Alvinegro já têm uma relação estreita, mas em termos de pré ou intertemporada e concentração para os jogos o camisa 7 jamais passou perto do litoral outra vez. Desde então, portanto, não pôde rever o gramado do estádio Eucyr Resende ao vivo, no qual vai ser realizado o primeiro, e talvez único, jogo-treino do time de Oswaldo de Oliveira e toda a reta final da pré-temporada deste ano.
- Sempre lembro com carinho daquele dia, foi inesquecível por ter sido minha estreia com a camisa 10 do Botafogo. E até porque só se falava de Lucio Flavio, e eu tinha que substituí-lo. Muita gente duvidava, a responsabilidade era grande sobre mim, e a vitória vinda daquele jeito serviu para calar a boca dos críticos. O status de ídolo da torcida começou lá. E ainda contribuí[ para a história do presidente (Mauricio Assumpção) - ressaltou o meia, chamado de "monstro" pelo mandatário logo após o jogo, que lhe ajudou a render o apelido de Magosuel, ou só Mago, antes mesmo do fim daquela Taça Guanabara.
Aliviado com o gol nos acréscimos, de cabeça, Assumpção detalhou o que sentiu naquela tarde.
- O clima no vestiário era bom, e lembro de tê-lo visto concentrado, mais quieto. Eu não queria ser chamado de pé-frio e apostei minhas fichas no Maicosuel. Nós insistimos para trazê-lo em um negócio difícil quando ele vinha de más passagens por Cruzeiro e Palmeiras. Foi talvez o maior acerto da minha gestão. E depois só tenho a agradecer aos investidores que o trouxeram para cá de volta - revelou.
O destino atrasou a data que está chegando, já projetada com um sorriso no rosto e muita nostalgia. Segundo o craque, a tendência é dar sorte para uma temporada em que ele precisa de reafirmação, semelhante àquela ocasião, só em escala menor.
- Vai ser um reencontro bacana, já estou ansioso. Aquele campo marcou muito a carreira. Ainda mais eu que sou emotivo demais (risos). Vou me emocionar, sei que não vai ser fácil. E vai ser importante ficarmos mais lá, pegando aquela energia. É minha pré-temporada desde 2009, o físico é o meu combustível. Dá até para enjoar do campo de tanto que vamos usá-lo (risos). É bom adquirir ritmo nesse jogo-treino contra o Boavista e, se tudo correr bem, tenho certeza de que vai ser um sinal para que o ano se encaminhe como queremos para o Botafogo, com títulos que ainda não conquistei - cita o Mago, que estava no Hoffenheim-ALE no Carioca 2010.
Hoje, Maicosuel tem outra cabeça, entende melhor o jogo dentro e fora de campo, mas a categoria e o fôlego permanecem, garante, e ele está louco para ficar a ponto de bala a partir do dia 22, contra o Resende, no Engenhão. Ainda que siga se cobrando muito, a situação é outra. Com jogadores que chamam a responsabilidade a seu lado, não precisa ser a estrela da companhia como em grande parte do tempo de sua primeira passagem por General Severiano. Fato que o desgastou muito.
- A cada ano que passa, o sentimento muda, você vai ficando experiente. Em 2009, eu chamava muito a responsabilida mesmo, meu estilo é esse. Toda bola eu queria pegar. Agora temos várias opções para ajudar nisso, como o Elkeson, o Loco, além do Renato, Antônio Carlos mais atrás, depois ainda teremos o Jobson. E com a lesão que tive, foi preciso me adaptar, saber fazer outras funções, senão o corpo não aguenta - afirmou, consciente, o jogador de 25 anos.
Entre setembro de 2010 e maio de 2010, a história de Maicosuel por pouco não foi interrompida de vez. No Botafogo e em qualquer outro clube. Repatriado por R$ 9 milhões, tornou-se o investimento alvinegro mais poderoso da história, mas rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo num clássico contra o Vasco e teve a carreira ameaçada. Segundo ele, por tudo o que envolveu o momento, o duelo com o Boavista apenas não foi mais inesquecível que sua volta, diante do Friburguense, em amistoso que também decidiu, com um belo gol. Foi o mais importante da minha carreira. Os gols da estreia só perdem para aquele, que teve um significado enorme. Só consegui ajoelhar e agradecer a Deus, chorando muito, por ter voltado a jogar, e em perfeitas condições, no mesmo nível. Todos que acreditaram em mim estavam naquele desabafo... Os médicos diziam que, de tão grave que era o problema, se eu voltasse algum dia, demoraria pelo menos de um ano a um ano e meio. E graças à fisioterapia, reduzimos para oito meses. Trabalhei em três períodos e só tinha um objetivo na cabeça - recorda-se.
Na hora da pior notícia, com a mão estendida estavam, novamente, Mauricio Assumpção e o vice de futebol, André Silva, a quem também ganhou afeição de um pai ao longo dos anos. A tentativa de amenizar a dor causou efeito duradouro.
- Eles sempre estiveram comigo, no exame e na cirurgia, por isso a gratidão ao Botafogo, à torcida e a eles pessoalmente. Disseram para eu não baixar a cabeça, ninguém ia me deixar de lado e que eu ia voltar ainda melhor. Foi bom ter ouvido isso, nos aproximamos ainda mais. Até hoje fazem diferença aquelas palavras - conta Maicosuel, olhando para a cicatriz deixada pela cirurgia no joelho esquerdo, a única marca do pesadelo.
- Não sinto mais nada, perdi massa, mas recuperei e as duas pernas já igualaram.
Senha para que esta temporada repita 2009. É só o que esperam os alvinegros.
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