segunda-feira, abril 20, 2009

Trincamos os dentes, encaramos o abismo e não arredamos pé.


Há pouco tempo, na saída do estádio, num dia em que vencemos ao nosso modo, desesperadamente, um homem de olhos injetados gritava: "Ninguém sofre mais do que eu! Ninguém sofre mais do que eu!"
Cada time tem seus usos. Ministros de Estado, capitães de indústria e generais-de-brigada fariam bem em ser um pouco Botafogo.
Mais cedo do que tarde, descobririam que os planos são instáveis, que as certezas são poucas e, principalmente, que o mundo não lhes obedece.
Do ponto de vista da profilaxia da alma, me parece que o ceticismo botafoguense é superior à convicção otimista flamenguista.
Se não por outra razão, ao menos por esta: cedo ou tarde todo mundo terminará enfrentando seu momento fatal.
Quem sabe não estaremos mais preparados? Ao longo dos tempos aprendemos a vencer - sabemos como é isso -, mas jamais nos iludimos quanto à fugacidade dos bons momentos, pelo contrário.
A lógica do pior nos ensinou que, mais dia, menos dia, a vaca voltará para o brejo, como de fato volta, apesar do que dizem os padres e os pastores.
Nessa hora será útil ter abandonado toda metafísica nas tardes/noites do nosso estádio.
Em dias de derrota, apenas trincamos os dentes, encaramos o abismo e não arredamos pé.
É sempre um ensaio para o futuro.
João Moreira Salles.

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