Internado há cinco anos numa clínica da zona sul do Rio, o bicampeão mundial Nilton Santos convive com o Mal de Alzheimer. Sua mulher, Maria Célia, também luta contra uma doença séria - sofre de câncer - e praticamente não sai de casa. Disposto a ajudá-los, Damásio Desidério, amigo do ex-atleta da seleção e do Botafogo, resolveu colocar à venda o acervo daquele que é conhecido até hoje como a Enciclopédia do Futebol, cognome criado pelo locutor Waldir Amaral.
Agasalhos, chuteiras e as camisas das finais da Copa de 1958 e de 1962, utilizadas por Nilton Santos, integram uma lista de quase duas dezenas de peças de valor histórico em poder de Desidério. Ele ganhou de Nilton Santos todo o material em 2002, no ano que foi o autor de um enredo na Vila Isabel sobre a vida do ex-jogador - era o diretor de carnaval da escola de samba.
"O Nilton se emocionou com a homenagem e me deu de presente essa relíquia toda. Agora, vejo que o casal está em dificuldade e decidi vender tudo. Minha intenção é que eles possam ter um pouco mais de tranquilidade", explicou Desidério.
Por telefone, Maria Célia disse que vive à base de remédios caros e com ajuda de enfermeiras e acompanhantes. "Tenho câncer no cérebro, não sei quanto tempo me resta. Essa ideia de vender o acervo dele nos ajudaria, sim. Eu, por exemplo, não tenho plano de saúde", contou.
Com a voz firme, embora acusando cansaço, Maria Célia manifestou gratidão ao Botafogo. "Durante todos esses anos, o clube esteve presente nas despesas do Nilton. Não faltou sequer uma vez. Está lhe dando uma velhice digna", revelou a mulher do craque.
Para a mulher de Nilton Santos, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) poderia adquirir o acervo. "Faz sentido, você não acha? No dia em que ganhou a Copa de 1958, ainda na Suécia, Nilton ouviu dos nossos dirigentes que na volta ao Brasil seria recompensado. Ele espera por isso há 54 anos", lembrou.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a CBF se disse disposta a conversar com Desidério sobre o assunto. O dono do acervo não quer estipular preço. "Falaram em R$ 2 milhões. Mas isso tem de ser bem avaliado", declarou.
Apesar de debilitada por causa do câncer, Maria Célia ainda consegue alguns contatos com Nilton Santos. Lamenta que a doença dele esteja cada vez mais acentuada. Mas revela como é possível trazê-lo de volta à realidade. "É só falar baixinho com ele sobre coisas do Botafogo (único clube em que atuou, de 1948 a 1964). Aí ele dá um sorriso, olha feliz pra gente e entende tudo", afirmou.
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